sexta-feira, 13 de março de 2015

Justa Causa - Gislaine Oliveira

Depois de tanto tempo afastado do blog (por motivos maiores, eu juro), estou de volta, e com uma leitura muito gostosa de fim de tarde. Justa Causa, é aquele tipo de livro leve e agradável de ler, principalmente, naqueles momentos que você decididamente parece precisar de uma 'boa causa' para escapar a realidade. 

Andréia e Diego, ou Sr. Diego, se preferir, são os protagonistas dessa envolvente e divertida estória. É quando Andréia vai trabalhar na Enterteniment, uma grande empresa, que ela conhece o misterioso e mau humorado, porém, lindo e sedutor, Diego. Como alguém consegue ser tudo isso ao mesmo tempo? Difícil de imaginar, não é mesmo? Então, depois de algumas atitudes ousadas e a relutância da nossa divertidissima Andréia em chamá-lo de 'Sr. Diego', esses dois vão acabar descobrindo como estavam inteiramente enganados, um sobre o outro, e o que já era esperado acontece; eles acabam se apaixonando. 

Eu literalmente devorei o livro em menos de três horas. Primeiramente, acho que devido a linguagem fácil e descontraída que a autora optou por contar a estória. Além disso, não pude deixar de dar altas risadas com a Andréia durante toda a leitura, o que me fez não conseguir largá-lo.

Justa Causa é uma estória apaixonante, divertida, e não poderia esquecer de mencionar, um tanto apimentada. 

- Se você pular, eu pulo. Lembra? - E pulei em direção ao nada. Aquilo era fantástico e apavorante. E então, eu vi que o Di tinha pulado também.
     Sim. Isso era amor. Ou suicídio. O que você preferir.

P. S. A Gislaine, que é uma fofa, me enviou esse exemplar e mais um monte de mimos e cartinhas. 


quinta-feira, 12 de março de 2015

Recife, 478 anos

Registro do meu recife. Cidade das águas e das pontes.
"Do Rio das Capivaras, agora também das garças, do lixo, do mangue, dos homens ora caranguejos, ora gabirus, da lama e do caos, donde brota a Manguetown."

"Encontro de boêmios e poetas
Encontro de cantigas e cantores
Num bálsamo que alivia nossas dores
Em noites que pressentem nossas mentes

Eu sinto que minh'alma se completa
E meu espírito em gozo abraça a noite
Quando em teus braços sinto com açoite
Mil vibrações que deixam-me inquieta

É o meu Recife, sonho dos artistas
Meu caminho em busca da conquista
Que faz constante em minha euforia

Eu te adoro em tuas madrugadas
Teu casario, teus bares ou calçadas
Tudo é motivo para minha poesia"


[Bia Marinho - Recife, Sonho de Artistas]


Vida longa a essa cidade e à nossa luta e disposição de torná-la um lugar melhor de se viver!

Parabéns, minha cidade. Parabéns, Recife!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Crônicas - Meu Príncipe Distante

   "Você pensa que não irei sentir saudades?"
 Assim ele me abraçou em lágrimas, quando de minha partida para Lisboa.
Da escada do avião, eu guardei sua última imagem, com os seus cabelos louros esvoaçando, acenando com as suas mãos. 
Foram dias e noites de ausência, percorrendo terras distantes, acalentado pela esperança do reencontro. No meu retorno, ele já não se encontrava à minha espera... Em seu lugar, apenas a lembrança de que fora passar longe suas férias de julho...
Resignado, esperei pelo prometido reencontro.
Agora, quando as aulas se reiniciam, a alegria dos escolares toma conta das ruas, recebo a notícia seca, via Embratel, de que o meu Pequeno Príncipe não mais voltará.
A casa tornou-se um deserto, as noites transformaram-se num poço de solidão. Já não existe razão para eu cedo chegar, quando ele não mais se encontra à minha espera.
A cama deixou de ser o seu barco de piratas; o quarto não é mais o seu centro de operações; meu corpo deixou de ser o seu cavalo, na mesa de trabalho, não mais encontro os rabiscos dos seus fantásticos projetos; na cozinha, as embalagens de ovos, leite e e biscoitos permanecem sem uso, ou aproveitamento, pela ausência de suas brincadeiras.
Não mais reencontro a sua imagem: cabelos louros, desgrenhados, espada desembainhada, montado no seu cavalo de cabo de vassoura, a pairar como um El Cid nos meus sonhos. 
Ele hoje está bem distante.
A tristeza tomou conta do seu quarto de brinquedos não mais brincados, cedendo lugar ao tédio e solidão.
Usando da burla e da má-fé, o egoísmo humano novamente roubou de mim o meu Pequeno Príncipe.
Longe, muito longe, ele guarda consigo a minha razão de viver e a doce emoção de voltar a ser criança.

Leonardo Dantas Silva
Julho de 1986.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Gaveta de Letras

O Gaveta de Letras é um projeto idealizado por alunos da Universidade Federal de Pernambuco que tem por objetivo reunir textos literários e materiais de caráter artístico originais de autores/compositores. A ideia é que o Gaveta possa estimular a criação e publicação de originais em um espaço virtual que busca a possibilidade de agregar uma diversidade de estilos, gêneros e linguagens. E, além disso, proporcionar interações sociais e estimular a comunicação através da inteligência coletiva.

Dessa forma, além da criatividade originalmente intrínseca, o projeto estimularia a produção de ideias através do convívio e da percepção de cada um do espaço em que estão inseridos socialmente.



“E eles abriram a gaveta.
O que encontraram? Um mundo inteiro de letras pedindo para sair…
Pequenas, grandes, sufocadas.
Perdidas em meio a poeira do esquecimento ou apenas dos segredos amados.
Aos poucos tomaram coragem, olharam a beirada tentando calcular se a queda seria grande.
Tinham receio.
Mas eles as ajudaram a sair.
Eles disseram ‘”vamos, vocês podem, ousem!”
Elas respiraram nervosas, porém decididas.
As letrinhas de pouquinho em pouquinho
iam pulando para fora do esconderijo.
Meio tímidas elas deixavam a velha gaveta,
em busca de novas histórias, novos mundos, novos leitores…
E os sonhos que criavam, as lembranças que deixavam, eram presentes preciosos.
Elas continuaram.
De uma em uma foram pulando,
Aos poucos formando as palavras que sonhavam em ser…
E os “desengavetadores” limitaram-se a sorrir, pois diante deles um universo se formava.
Um universo de letras infinitas.”


Para participar, envie o seu texto para gavetadeletras@outlook.com

Saiba mais no site http://gavetadeletras.com/

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Dia da Consciência Negra

Gente, apesar do texto não ser meu, eu senti que deveria compartilhá-lo com vocês. 

Acredito que debater temáticas relacionadas aos direitos humanos é essencial no sentido de conscientizar e formar seres humanos que respeitem e reconheçam o próximo como um igual. 

Esse poema carrega sentimentos fortes, que emocionam e nos fazem pensar sobre nossas atitudes, e até mesmo aqueles atos que consideramos pequenos, sem importância, mas que na prática podem estar reforçando preconceitos. Espero que se sintam tocados, tanto quanto eu me senti.  
Preta, eu sei

Eu sei que você não gostava muito de se olhar no espelho
Sei que seu cabelo era um problema
Preta, eu sei
Eu sei que a professora não tocava sua cabeça como a das outras meninas
Eu sei que você não tocava nos seus fios
Eu sei da dor que era desembaraçar
Eu sei também que vieram os apelidos
Eu sei que seu desejo era acabar com aquilo
Eu sei que nenhuma boneca sua se parecia com você
Ou nenhuma estrela de tv
Eu sei que você se achava menos bonita
Eu sei o que você fez pra escapar disso tudo
Você relaxou, não foi? Você alisou...
Você puxou, você esticou
Eu tava lá, preta... eu vi
Você se desenhou branca? Você sonhou com você tendo outro cabelo e outra pele?
Tava imposto, não tinha jeito
Você fingia ser outra pra alcançar respeito
Eu sei preta, que você se viu na outra preta que passou
Com seu cabelo solto, cheio de crespura e amor
Eu sei que você se viu
Eu sei, preta... você tem medo, né?
Você acha que seu cabelo não é digno de respeito
Você tem medo dos olhares e das reações
Mas preta, deixa eu te contar
Beleza maior em você, irá encontrar
Você nunca se sentiu completa com aquelas máscaras, não é verdade?
Você vai viver a beleza de ser você
Vai ver, vai gostar
Vai voltar pra me contar
Vem preta, solta esse cabelo
Olhe suas irmãs e veja quanto espelho
Descobriu seu poder?
Ninguém nunca mais vai te dizer
O que você tem que ser.

Bruna de Paula

A CONSCIÊNCIA É TODO DIA!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Meu Antônio

Quando menino entrou em mim.
Teus olhos ávidos banhou-me em sede.
Na memória da janela dentro da noite
a procurar meu corpo... tão meu...
tão seu...
Lambe meu espelho que trêmulo 
repete em versos teu nome...
An...
    tô...
       nio...
que ecoa em brasas na manhã.
silencioso...
a procurar por mim...
                                a  e s p e r a r . . .
                                         enfim

Vera Melo

[Círculo Poético Xique-Xique - Ricardo Nonato]

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Mega Sorteio - 9 livros, 3 ganhadores - Resultado

Quem aí está ansioso pra ganhar livros? \o/ Foram 16530 entradas no rafflecopter, pois é, estamos muito contentes com a proporção alcançada pela promoção, e, sem mais delongas, vamos conhecer os 3 ganhadores desse MEGA SORTEIO! *-*

a Rafflecopter giveaway


Primeira ganhadora: Maira Cunha
Segunda ganhadora: Amanda Pampaloni Pizzi
Terceira ganhadora: Suelen Mendes
Parabéns meninas!

Será enviado um email para as 3 ganhadoras. À primeira, será solicitado que escolha seus 3 livros e endereço; e à segunda e à terceira por enquanto será solicitado que enviem apenas o endereço. Quem não responder o email em até 72 horas será desclassificada e sortearemos outro ganhador.

Observação 1: Ao conferir o cumprimento das regras obrigatórias, 3 pessoas foram desclassificadas, por não seguirem ou curtirem todos os blogs e páginas solicitados. Pela foto abaixo vocês acompanham o processo do sorteio.



Observação 2: a regra obrigatória de Seguir o blog Ficcionalmente Real foi desconsiderada, devido a ausência do widget GFC nesse blog no começo da promoção, o que impediu várias pessoas de segui-lo.


Agradeço aos outros blogs e autores que colaboraram para que esse sorteio acontecesse, permitindo assim que juntos fizessemos dele um sucesso, e todos nós agradecemos imensamente aos nossos queridos leitores participantes! :')

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Shots of Recife

O Recife é, ainda, centro de turismo por ele próprio. Como cidade singular cheia de atrativos de belas paisagens, de velhas igrejas, de reminiscências históricas em quase todas as ruas. Cidade elegante sem derrames, mas de grande poesia, onde “uma canção na água e uma bandeira ao vento” lhe emprestam logo uma cor de festa. (Folha da Manhã, Minuto do Porto da Cidade, 29.09.1940)



Os rios abraçando a cidade, provocando pontos, os botes, os rapazes esportivos de calção, as velhas casas caindo. Sob as picaretas, os arranha-céus se levantando, as avenidas se abrindo e por elas correndo os ônibus e os automóveis;

Os homens andam apressados nas ruas, vai chover; todas as mulheres andam lentamente pelas ruas, vai fazer sol;
Os jardins estao desertos

Precisamos povoar os jardins. Sentir o encanto do entardecer envolvido pelo ambiente tranquilo dos parques. Precisamos sobretudo mostrar à criança a beleza dos jardins, a função acolhedora das árvores... (Minuto da Cidade e do Porto do Recife, Folha da Manhã, 03.04.1941)
“... há certas memórias que são como pedaços de gente, em que não podemos tocar sem algum gozo e dor, mistura de que se fazem saudades”. (Machado de Assis)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

De frente com o autor - Andréa Lopes

A entrevista de hoje é com a autora e parceira do blog, Andréa Lopes, escritora do livro "A Cor dos Olhos Teus", que eu resenhei, há alguns dias, confira aqui. O carinho e profissionalismo da autora rendeu uma entrevista super fofa e divertida de ler, nos permitindo conhece-la melhor, e claro, ficar por dentro, do que ela anda aprontando pra nós.


Meu nome é Andréa e o romance A cor dos olhos teus é meu primeiro trabalho publicado. Decidi que publicaria meu livro há uns dois anos e nem mesmo eu tenho certeza de que acreditava nisso. Mas aí está ele e agora eu não tenho nenhuma dúvida de que outros mais virão. Sou ariana, publicitária, casada e mãe de dois meninos maravilhosos. Meu primeiro filho, João, nasceu quando fiz 37 anos. O Vinícius, meu segundo filho, nasceu quando fiz 40 anos e A cor dos olhos teus, meu terceiro filho, aos 44. 

Nunca é tarde para começar. O importante é querer.

Closet Secreto: Como é a sua relação com a arte em geral? 

A. Lopes: Já fui uma “consumidora” mais ativa, indo muito ao teatro, visitando exposições, nunca faltando à Bienal de Arte de SP, por exemplo. Há alguns anos, por falta de tempo e talvez preguiça, fico muito mais focada na literatura, no cinema e na música. Essas coisas me despertam, me emocionam, fazem com que eu me sinta viva.

Closet Secreto: O que te inspirou a começar a escrever? Quais são suas referências e inspirações?

A. Lopes: A literatura sempre foi minha grande paixão, como leitora. Desde muito jovem, os livros me prendiam num mundo paralelo. Escrever foi provavelmente uma consequência, mas nunca pensei em escrever um livro. Foi com Harry Potter que descobri as comunidades de Fan Fictions e comecei a me aventurar com alguns contos, anonimamente e percebi que eles agradavam. Depois continuei com Crepúsculo e finalmente me aventurei a escrever um livro, dois, três.

Closet Secreto: O que você espera que “A Cor dos Olhos Teus” provoque no leitor?

A. Lopes: Diversão. Não se trata de um livro que provoque grandes reflexões sobre a vida ou que trate de algum drama. Ele é divertido, leve, faz o tempo passar rápido, dá vontade de se apaixonar. Ao menos foi o que tentei! Rsrs.

Closet Secreto: Como foi o processo de criação dos personagens da história? Eles têm um pouco de você?

A. Lopes: Talvez cada um deles tenha um pouco, não sei ao certo. Em determinado momento, você já não sabe se está mandando na estória ou se os seus personagens estão. Comecei o livro com uma determinada ideia, mas no decorrer do trabalho, as coisas foram tomando outros rumos e eu já não sabia mais como acabaria. Passei por momentos angustiantes, decidindo o que aconteceria a seguir. É uma obsessão e quando finalmente terminei, passei por um bom período de luto. Chorei, senti saudades, não queria me separar deles. É um processo intenso, desgastante, mas feliz.

Closet Secreto: O que é ser escritor pra você? Qual é o escritor que você mais admira? 

A. Lopes: Eu levei algum tempo para admitir que era uma escritora. Ainda não tenho certeza se me sinto confortável com o título, estou me acostumando. Minha resposta honesta à sua pergunta? Não sei ainda o que isso significa.

Sou uma leitora compulsiva e não consigo eleger um escritor que eu goste mais... Posso citar alguns. Gabriel Garcia Marques e Chico Buarque são autores que provocam emoções estranhas, às vezes incômodas. Seus livros têm ritmo, são quase musicais. Eu gosto muito. Adoro JKRowling e Stephenie Meyer. Digam o que quiserem, elas inventaram personagens e mundos encantadores e que não serão esquecidos. Ah, muita coisa. Se eu falar de tudo que eu gosto...

Closet Secreto: Qual frase de um livro que você leva para a vida? 

A. Lopes: Há! Vocês não vão acreditar, mas Antoine de Saint Exupery é meu autor do coração, com cheiro de infância.

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” é o meu lema desde sempre.

Closet Secreto: Qual seu livro de cabeceira?

A. Lopes: Não tenho. Tenho um Kindle de cabeceira e um novo livro praticamente toda semana.

Closet Secreto: Fale um pouco sobre seus outros projetos.

A. Lopes: Eu não consegui me desvencilhar dos personagens do meu romance e na sequencia escrevi uma pequena continuação da vida dos dois, que nem chega a seu um romance, é um conto. Depois escrevi outro livro sobre a estória do Rafael – o ex-namorado da Daniele e outro da Julia (não posso contar quem é ela, senão vão descobrir o final do livro). É quase uma trilogia, mas não é, porque os livros têm pouco em comum entre si, exceto a referência aos personagens de A cor dos olhos teus.

Closet Secreto: Deixe um recadinho para meus leitores do blog. Fale por que deveriam ler o seu livro? Ah, quem sabe alguns deles gostam de escrever assim como eu e sonham em publicar um livro, então seria legal que você falasse algo relacionado a isso também.

A. Lopes: Uma das coisas que mais me impressiona neste mundo da literatura, são os blogs literários, instablogs, Faceblogs e o mundo de jovens leitores e escritores em volta disso. A paixão pelos livros e suas estórias é contagiante. Só quem gosta de ler e escrever entenderá o que eu digo: os livros nos transportam a outros mundos, a outras vidas, a outras emoções. Nada se parece com isso.

Aqueles que sonham em ser escritores, peço que não desistam. Eu realizei um sonho. Um sonho alcançado com muito trabalho, muito esforço, paciência, mas ainda assim um sonho. Sou a prova viva de que eles se realizam, se a gente não desistir. Portanto, corram atrás dos seus sonhos.

Abraços.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Crônicas - A Última Crônica

Ilustração: Samuel Casal

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.


A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa.

O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.


Texto extraído do livro "A Companheira de Viagem", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1965, pág. 174.

Fernando Sabino